terça-feira, 10 de junho de 2014

A presença visível e invisível de Durkheim na historiografia da educação brasileira.



A presença visível e invisível de Durkheim na história da educação brasileira
Bruno Bontempi Junior
Por Edineia Koeler

 Bontempi Junior faz uma incursão nas produções acadêmicas brasileiras no final da década de 60 e início de 70. Em sua pesquisa busca referências diretas e indiretas ao sociólogo francês Emilie Durkheim considerado o pai da Sociologia e que fez profundas análises em educação no seu país de origem (França) o que o tornou também um influente pensador educacional.
 Logo no inicio do texto Bontempi, percebe que apenas um autor, Fernando Azevedo, declarou-se adepto de Durkheim na historiografia da educação brasileira. Isso não significa que sua influência tenha sido pequena. Pois a memória duradoura de Azevedo marcou as questões de método de análise e escrita da história, e de explicação de relações entre educação e sociedade.
            O autor verifica que apesar de não ser citado diretamente, Durkheim é um autor em “posição de “transdiscursividade”, pois percebem-se os conceitos de Durkheim nos autores sem que seja necessário citá-lo diretamente.
            Azevedo concorda com Durkheim ao afirmar que “é a sociologia a ciência que permite a síntese, ao desprender e isolar o fato social da complexidade de seus condicionantes, a fim de estabelecer as leis gerais que regulam a gênese, a organização e a evolução da vida social”. A sociologia de Azevedo pauta-se fundamentalmente em Durkheim, analisando a sociedade como síntese dos indivíduos e não como soma e compreendendo a educação como um sistema que se impõe aos indivíduos, resultado dos costumes e idéias produzidas pela vida comum expressando necessidades de gerações passadas.
            Pelo método durkheimiano, há que se estudar a realidade social desde as suas origens, numa relação onde caberia a historia “reconstruir o passado em suas condições precisas de tempo e espaço, “descrevendo os acontecimentos e dispondo-os em ordem cronológica, enquanto à sociologia, dos dados quase brutos da historia, estabelece as relações de causalidade sintetizando a realidade”.
            A chave explicativa para a mudança social para Durkhem está na morfologia social (estudo da população, seu volume, densidade e distribuição geográfica) fatores que formam a estrutura social fundamental. Durkhem defende que os indivíduos passam a desenvolver papeis cada vez mais especializados na sociedade, a medida que fatores como o crescimento da população urbana aliados ao desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, diminuindo os espaços coagindo os indivíduos a travar uma interação social cada vez mais intensa. O que significa dizer que as idéias e os sentimentos individuais são reflexos morais de um tipo concreto de estrutura social. E que a organização social pode explicar os modos de pensar de um determinado povo.
             
            Educação: funcionalismo do Estado
            A educação é concebida como instancia privilegiada de transmissão de cultura tendo a função social de promover a coerção da geração jovem para a adulta. Mantendo assim a continuidade da sociedade quanto às inovações tecnológicas, recebem sempre a “benéfica” das tradições que as absorve de modo que seu impacto não provoque o desequilíbrio do organismo social. Para Durkheim a criança e o jovem devem receber certo numero de dados que os preparam para preencher uma função especializada em beneficio de toda a sociedade. Assim também cada profissão reclama aptidões particulares e conhecimentos especializados. A educação se encarrega dessas particularidades, pois igualizar seria possível nas sociedades primitivas.
            Segundo Durkheim, para explicar ou definir o fenômeno social da educação o pesquisador deve perguntar a que necessidade social ela corresponde. Se a educação se apresenta como função coletiva, para o bem da vida social, a sociedade não pode ser indiferente a ela. O Estado deve submeter tudo que estiver relacionado à educação a sua influência pois, não se compreende que a escola possa reclamar o direito de dar uma educação anti-social. É dever do Estado, proteger os princípios essenciais comuns a todos.
            II parte: A presença invisível de Durkhem
           
Inicialmente o autor analisa as principais tendências da Sociologia da Educação na França, EUA, Grã-Bretanha ao longo dos anos entre 1945 e 1965- onde estava o funcionalismo como explicação das relações entre escola e sociedade. Quanto à sociologia atribui ao desenvolvimento educacional a legitimidade de “alavanca do sistema econômico”.
            Contra essa corrente surge a geração de sociólogos nos fins dos anos 60 e inicio dos anos 70 de inspiração marxista apresentando a escola como “uma das alavancas de transformação e melhoria da sociedade”.
            No Brasil dá-se movimento similar alinhando-se ao que se entendia por marxismo e materialismo histórico e dialético.
            O autor analisa 146 trabalhos realizados na área de historia da educação e conclui que os sistemas de ensino continuam sendo a preferência das atenções. Atribui ao impacto das teorias reprodutivas certo desencantamento a respeito do potencial de mudança social pela escola de modo que a partir de certo momento, as atenções dos estudos da educação brasileira passaram a se voltar para as instancias que de fato poderiam produzi-la. Daí a explosão de estudos das experiências não estatais de educação popular, durante os anos 80 demonstrando a preferência teórica por Gramsci.
            O período analisado (1972 de 1988) demonstra investigações objetivando a denuncia tendo-se constatado o fato das escolas atenderem os interesses da minoria.
            Período marcado pelo ativismo político. Embora o modelo de explicação das mudanças sociais em voga permanecesse o mecanicismo, mesmo após o repúdio ao positivismo.
            Assim sendo, segundo o autor seria um despropósito afirmar que a historiografia da educação brasileira seja durkheimiana vista que em nenhum momento ela exercitou a verificação das correlações entre fatos sociais que dão suporte para as leis sociais gerais.
            No entanto no interior de uma historia explicativa e analítica, ao ser inserido em uma totalidade que combina os fatores políticos econômicos e sociais, composta à moda azevediana, ou seja, com base em fontes secundárias dá uma direção peculiar ao legado durkheimiano.Porém a prevalência ainda foi mecanicista.


BONTEMPI JÚNIOR, B. . A presença visível e invisível de Durkheim na historiografia da educação brasileira. In: Luciano Mendes de Faria Filho. (Org.). Pensadores sociais e história da educação. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, v. 1, p. 47-61